CÓDIGO SECRETO
Basta que nós nos
desfaçamos das amarras linguísticas que nos prendem a essa falsa realidade,
elevar a mente, e reler tais contos de outro modo.
Para um alquimista,
encontrar a Pedra Filosofal era o seu principal objetivo. Com ela, era possível
transformar qualquer metal em puro ouro, bem como obter o elixir da longa vida.
Chamada de ‘A Grande Obra’, a Pedra Filosofal nada mais é do que a busca da elevação
do caráter, a busca da elevação espiritual. A transmutação dos metais
inferiores em ouro é a transformação de si próprio de um estado inferior para
um estado espiritual superior, é lapidar a pedra bruta até que o chumbo do ego
se torne o ouro da essência…
Os seres humanos
estão constantemente tentando formular concepções sobre o mundo, e por meio das
artes, da ciência, e dos mitos, tentam estruturar o mundo de maneira que faça
sentido para eles. Essas tentativas de objetificar a sua realidade através de
símbolos acaba dotando-os de caráter subjetivo. Palavras, nomes, conceitos,
ideias, idiomas inteiros… são apenas concepções de coisas, ativadas na mente
por uma forma previamente selecionada dotada de significado para representar o
mundo, e que podem ser compartilhados com os outros.
Contudo, eles não
são a realidade, mas sim a representação da realidade, assim como quando
olhamos um espelho. O que vemos através dele não é o mundo, mas a
representação do mundo. Eles são apenas “ferramentas” que os seres humanos usam
para captar e compreender o que está na realidade. A própria ciência se utiliza
de construtos simbólicos para estabelecer ligações concretas entre o mundo
subjetivo e o objetivo, porém, tais construtos são imperfeitos.
O símbolo se contrapõe ao
signo da linguagem conceitual em toda uma série de planos. Ele é arbitrário em
sua relação com o que significa, ou, como preferem os linguistas, ele é duplo.
Possui duas faces: significante e significado. O liame entre esses dois
aspectos é, para cada signo tomado isoladamente, inteiramente arbitrário, pois
faz referência a uma realidade exterior a si.
Um signo só tem valor
significante devido a sua relação com os outros, por sua inclusão num sistema
geral. Nesse conjunto estruturado, o que era significado até um certo nível de
abstração, agora pode funcionar como significante, nem outro nível mais
elevado. Contudo, ele não é circunscrito a ele mesmo. Serão seus intérpretes
que definirão a sua delimitação.
A metáfora é uma forma de
construção criativa, que confia na falsidade construtiva como meio para
libertar a imaginação, servindo para gerar uma imagem para o estudo de um
objeto. O processo metafórico é um modo básico de simbolismo, mas não o único,
porém, central para o modo como os humanos modelam sua experiência e seu
conhecimento de mundo. Mais que um mero artifício literário, ela produz seus
efeitos ela interseção ou sobreposição de imagens, atuando como geradora de um
novo sentido.
A alquimia está repleta de
simbolismos e metáforas, bem como os mitos e os contos de fadas. Nestes dois
últimos, podemos vislumbrar algumas das lições da alquimia, travestidas de
funções pedagógicas, afinal, simbolicamente ou não (tanto), eles criam modelos
exemplares para toda uma sociedade através de seus heróis.
Contudo, basta que nós nos
desfaçamos das amarras linguísticas que nos prendem a essa falsa realidade,
elevar a mente, e reler tais contos de outro modo. O texto será o mesmo,
e seu conteúdo, também o mesmo. Só veremos o que sempre esteve diante dos
nossos olhos mas, por causa de nossa própria vontade, éramos impedidos de
enxergar.
Não se trata de decifrar
uma mensagem a partir de um código conhecido, para restituir-lhe o sentido, e
sim, a partir de uma mensagem determinada, encontrar o código secreto no qual
ela se funda e que comandou a sua emissão.
Por Aoi Kuwan