domingo, 28 de junho de 2015

LINGUAGEM ALQUÍMICA

CÓDIGO SECRETO

Basta que nós nos desfaçamos das amarras linguísticas que nos prendem a essa falsa realidade, elevar a mente, e reler tais contos de outro modo.


Para um alquimista, encontrar a Pedra Filosofal era o seu principal objetivo. Com ela, era possível transformar qualquer metal em puro ouro, bem como obter o elixir da longa vida. Chamada de ‘A Grande Obra’, a Pedra Filosofal nada mais é do que a busca da elevação do caráter, a busca da elevação espiritual. A transmutação dos metais inferiores em ouro é a transformação de si próprio de um estado inferior para um estado espiritual superior, é lapidar a pedra bruta até que o chumbo do ego se torne o ouro da essência…

 Os seres humanos estão constantemente tentando formular concepções sobre o mundo, e por meio das artes, da ciência, e dos mitos, tentam estruturar o mundo de maneira que faça sentido para eles. Essas tentativas de objetificar a sua realidade através de símbolos acaba dotando-os de caráter subjetivo. Palavras, nomes, conceitos, ideias, idiomas inteiros… são apenas concepções de coisas, ativadas na mente por uma forma previamente selecionada dotada de significado para representar o mundo, e que podem ser compartilhados com os outros.

 Contudo, eles não são a realidade, mas sim a representação da realidade, assim como quando olhamos um espelho. O que vemos através dele não é o mundo, mas a representação do mundo. Eles são apenas “ferramentas” que os seres humanos usam para captar e compreender o que está na realidade. A própria ciência se utiliza de construtos simbólicos para estabelecer ligações concretas entre o mundo subjetivo e o objetivo, porém, tais construtos são imperfeitos.

O símbolo se contrapõe ao signo da linguagem conceitual em toda uma série de planos. Ele é arbitrário em sua relação com o que significa, ou, como preferem os linguistas, ele é duplo. Possui duas faces:  significante e significado. O liame entre esses dois aspectos é, para cada signo tomado isoladamente, inteiramente arbitrário, pois faz referência a uma realidade exterior a si.

Um signo só tem valor significante devido a sua relação com os outros, por sua inclusão num sistema geral. Nesse conjunto estruturado, o que era significado até um certo nível de abstração, agora pode funcionar como significante, nem outro nível mais elevado. Contudo, ele não é circunscrito a ele mesmo. Serão seus intérpretes que definirão a sua delimitação.

A metáfora é uma forma de construção criativa, que confia na falsidade construtiva como meio para libertar a imaginação, servindo para gerar uma imagem para o estudo de um objeto. O processo metafórico é um modo básico de simbolismo, mas não o único, porém, central para o modo como os humanos modelam sua experiência e seu conhecimento de mundo. Mais que um mero artifício literário, ela produz seus efeitos ela interseção ou sobreposição de imagens, atuando como geradora de um novo sentido.

A alquimia está repleta de simbolismos e metáforas, bem como os mitos e os contos de fadas. Nestes dois últimos, podemos vislumbrar algumas das lições da alquimia, travestidas de funções pedagógicas, afinal, simbolicamente ou não (tanto), eles criam modelos exemplares para toda uma sociedade através de seus heróis.

Contudo, basta que nós nos desfaçamos das amarras linguísticas que nos prendem a essa falsa realidade, elevar a mente, e reler tais contos de outro modo.  O texto será o mesmo, e seu conteúdo, também o mesmo. Só veremos o que sempre esteve diante dos nossos olhos mas, por causa de nossa própria vontade, éramos impedidos de enxergar.

Não se trata de decifrar uma mensagem a partir de um código conhecido, para restituir-lhe o sentido, e sim, a partir de uma mensagem determinada, encontrar o código secreto no qual ela se funda e que comandou a sua emissão.

Por Aoi Kuwan
Postagem: Coelestium


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